Alexandre O'Neill
O´Neill
(Alexandre), moreno português,
cabelo asa de corvo; da angústia da cara,
nariguete que sobrepuja de través
a ferida desdenhosa e não cicatrizada.
Se a visagem de tal sujeito é o que vês
(omita-se o olho triste e a testa iluminada)
o retrato moral também tem os seus quês
(aqui, uma pequena frase censurada…)
No amor? No amor crê (ou não fosse ele O´Neill!)
e tem a veleidade de o saber fazer
(pois amor não há feito) das maneiras mil
que são a semovente estátua do prazer.
...........Mas sofre de ternura, bebe de mais e ri-se
...........do que neste soneto sobre si mesmo disse…
.
cabelo asa de corvo; da angústia da cara,
nariguete que sobrepuja de través
a ferida desdenhosa e não cicatrizada.
Se a visagem de tal sujeito é o que vês
(omita-se o olho triste e a testa iluminada)
o retrato moral também tem os seus quês
(aqui, uma pequena frase censurada…)
No amor? No amor crê (ou não fosse ele O´Neill!)
e tem a veleidade de o saber fazer
(pois amor não há feito) das maneiras mil
que são a semovente estátua do prazer.
...........Mas sofre de ternura, bebe de mais e ri-se
...........do que neste soneto sobre si mesmo disse…
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caixadòculos
- Patriazinha iletrada, que sabes tu de
mim?
- Que és o esticalarica que se vê.
- Público em geral, acaso o meu nome...
- Vai mas é vender banha de cobra!
- Lisboa, meu berço, tu que me
conheces...
- Este é dos fala sozinho na rua...
-
Campdòrique, então, não dizes nada?
- Ai tão silvatávares que ele vem hoje!
- Rua do Jasmim, anda, diz que sim!
-É o do terceiro, nunca tem dinheiro...
- Ó Gaspar Simões, conte-lhes Você...
- Dos dois ou três nomes que o
surrealismo...
- Ah,
agora sim, fazem-me justiça!
- Olha o caixadòclos todo satisfeito
a ler as notícias...
Daqui, desta Lisboa compassiva
Daqui, desta Lisboa compassiva,
Nápoles por Suíços habitada,
onde a tristeza vil, e apagada,
se disfarça de gente mais activa;
Daqui, deste pregão de voz antiga,
deste traquejo feroz de motoreta
ou do outro de gente mais selecta
que roda a quatro a nalga e a barriga;
Daqui, deste azulejo incandescente,
da soleira da vida e piaçaba,
da sacada suspensa no poente,
do ramudo tristôlho que se apaga;
Daqui, só paciência, amigos meus !
Peguem lá o soneto e vão com Deus...
Os atacadores
A noiva já de noiva, a
noiva já na igreja
e tu não encontras os atacadores!
Já viste na caixa dos
sobejos, na mão dos bocejos?
Já viste na gaveta da cómoda?
Já viste nas pregas da imaginação?
Já viste na gaveta da cómoda?
Já viste nas pregas da imaginação?
Ganha os campos, foge,
precede-te a ti mesmo
como um homem legalmente espavorido
por anos de critério,
sê repentino como um menino!
como um homem legalmente espavorido
por anos de critério,
sê repentino como um menino!
Convém-te não encontrar
os atacadores?
Há noivas que esperam
até murcharem as flores,
noivas de pé, muito brancas e já a fazer beicinho…
noivas de pé, muito brancas e já a fazer beicinho…
Procura… Procura sempre,
pobrezinho!...
Procura mas não encontres os
atacadores…
Procura mas não encontres os
atacadores…
Perfilados de medo
Perfilados de medo,agradecemos
o medo que nos salva da loucura.
Decisão e coragem valem menos
e a vida sem viver é mais segura.
Aventureiros já sem aventura,
perfilados de medo combatemos
irónicos fantasmas à procura
do que não fomos,do que não seremos.
Perfilados de medo,sem mais voz,
o coração nos dentes oprimido,
os loucos,os fantasmas somos nós.
Rebanho pelo medo perseguido,
já vivemos tão juntos e tão sós
que da vida perdemos o sentido.
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